INTRODUÇÃO
Observando
o pequeno S. L. L. F. de 6 anos de idadebrincando com seus quebra-cabeças
chamou-me atenção às inúmeras tentativas de acertar. Em dado momento ele se deu
conta de que já havia uma figura montada na caixa do brinquedo e, a partir daí
conseguiu realizar a tão desejada montagem. A descoberta o deixou eufórico.
Batendo as mãos veio em minha direção gritando: - “Você viu, tia, eu
consegui, eu aprendi.” A alegria da comemoração atraiu outros familiares e o
contentamento foi geral.
Algo,
assim acontece com o bebê diante de uma novidade: bater palmas, dançar, cantar,
reconhecer o barulho de um carro etc., ou o adulto que experimenta pela
primeira vez ler, escrever, usar o computador enfim, qualquer situação que
sinaliza um avanço de aprendizagem significativa – sem dúvida fruto do esforço
próprio.
Segundo
pesquisas dos neurocientistas “a mente e cérebro saudáveis são por natureza
ávidos por informações”. A predisposição para aprender depende entre outras
situações da maturação de cada um.
A
predisposição para aprender depende entre outras situações da maturação de cada
um.
Mesmo
com as diferenças individuais, aprender é tão importante para a dinâmica
psíquica que temos um “detector de novidades” que seleciona e “avisa” o cérebro
da chegada de informações até então desconhecidas.
Muitas
vezes a curiosidade (essa importante aliada) que permeia o processo de aprender
se perde ou fica em segundo plano por falta de estímulo. O ser humano foi feito
para explorar, experimentar e dominar novas tecnologias, sem opressão e sem
obrigação, pois estas nublam o prazer de aprender, um novo saber assemelha-se a
degustar um novo sabor, isto representa um dos maiores desafios, pois propicia
crescimento, maturidade e sobretudo é satisfatório.
O
ser humano foi feito para explorar, experimentar e dominar novas tecnologias,
sem opressão e sem obrigação, pois estas nublam o prazer de aprender
1.
Aprender
A
ciência pedagógica tem sido inquieta quanto ao fenômeno da aprendizagem.
Algumas teorias divergem no que se refere à natureza dos processos e mecanismos
particulares em jogo. É notório que a aprendizagem constitui-se em um processo,
uma função que vai além da aprendizagem escolar e que não se circunscreve
exclusivamente a criança.
O
ser humano aprende no uso de todo o seu organismo para melhor integrar-se no
meio físico, atendendo as necessidades biológicas, psicológicas e sociológicas
que se apresentam no transcorrer da vida. Essas necessidades são consideradas
obstáculos. Se não houvesse obstáculos não haveria aprendizagem. A
predisposição para aprender advém dos obstáculos. O ser humano liberta-se cada
vez mais, quando se defronta com os obstáculos e supera-os.
Daí,
podemos entender que o papel do professor não é de meramente oferecer novos
conteúdos, e sim, sensibilizar o aluno a querer superar os obstáculos da vida
acadêmica.
O
papel do professor não é de meramente oferecer novos conteúdos, e sim,
sensibilizar o aluno a querer superar os obstáculos da vida acadêmica.
“Nada
que diga a respeito ao ser humano, à possibilidade de seu aperfeiçoamento
físico e moral, os obstáculos a seu crescimento (...) nada que diga respeito
aos homens e mulheres podem passar despercebidos pelo educador progressista.
Não importa com que faixa etária trabalha (...) são gente em permanente
processo de busca.” (FREIRE – 1996. p.144)
2.
A Evolução do Conceito de Aprendizagem
Até
o início do séc. XVI aprender significava memorizar. Os alunos memorizavam
textos exigidos pelos professores sem qualquer questionamento. Isto os tornavam
passivos, dependentes e inaptos, pois a memorização de textos não os preparavam
para a reflexão, nem para a produção e muito menos para o diálogo crítico. Ao
contrário os alunos eram automáticos e repetidores.
A
partir do séc XVII Comenius, o Pai da Didática Moderna, apresentou um novo
conceito de aprendizagem que consistia de três estágios:
1.
Compreensão (entendimento teórico).
2.
Memorização (registro cognitivo – a memória retém o que foi ensinado).
3.
Aplicação (é a aprendizagem em prática).
Dessa
forma o ensino passou a ser tanto expositivo como explicativo. Hoje,
verifica-se que a explanação verbal serve apenas para introduzir a aprendizagem
e não para incorporá-la de fato ao entendimento do indivíduo:
“A aprendizagem é um processo lento, gradual e complexo de
interiorização e assimilação no qual a atividade do aluno é fator decisivo. A
atividade não é de modo algum um processo passivo de mera reciprocidade. É,
pelo contrário, um processo eminentemente operativo em que a atenção, o empenho
e o esforço do aluno representa papel central e decisivo.” (MATTOS, 1963)
3.
Conceituando Aprendizagem
O
conceito clássico de aprendizagem diz ser uma mudança de comportamento. O
termo comportamento não se aplica só as ditas aprendizagens escolares. A
aprendizagem é construída pelas ocorrências do dia-a-dia desde o nascimento. É
por meio da aprendizagem que o indivíduo desenvolve comportamentos que
possibilitem interagir no meio social. Todas as atividades e realizações
humanas demonstram o resultado da aprendizagem.
A
aprendizagem é um processo tão importante e rico para a sobrevivência humana
que cada vez mais as escolas e as tecnologias estão em ritmo de aperfeiçoamento
para que as ações pedagógicas tenham os seus projetos mais eficientes.
A
aprendizagem é um processo tão importante e rico para a sobrevivência humana
que cada vez mais as escolas e as tecnologias estão em ritmo de aperfeiçoamento
para que as ações pedagógicas tenham os seus projetos mais eficientes.
As
habilidades, os interesses, as atitudes e as informações adquiridas, dentro e
fora das escolas contribuem para o ajustamento do indivíduo ao ambiente físico
e social, como também, propicia ao indivíduo a ter uma vida mais autônoma,
vivendo melhor (ou pior), mas, indubitavelmente, a viver de acordo com o que
aprende.
“Para
que a aprendizagem provoque efetiva mudança de comportamento e amplie o
potencial do educando é necessário que ele perceba a relação entre o que está
aprendendo e a sua realidade (circunstâncias que o rodeia).” (DROQUET,
1995, p11)
4.
O Prazer de Aprender
“Nosso
cérebro quando confrontado com o desconhecido empenha-se para que lembremos não
apenas da novidade, mas também, das circunstâncias que envolvem o fato – o que
contribui para aprendermos de modo mais prazeroso.” (FENKER &
SCHUTZE)
O
Instituto de Neurologia Cognitiva da Universidade Otto von Guericke em
Magdeburgo, Alemanha apresentou um estudo que pudesse responder como as células
neurais se comunicam entre si. As pesquisas mostraram que essa função é
desempenhada no cérebro por neurotransmissores as chamadas “substâncias
mensageiras” – a dopamina (células neurais nas quais se encontram o
neurotransmissor). O hipocampo (parte do lobo temporal do córtex, onde
informações dos diversos sistemas sensoriais se juntam e desempenham importante
papel para formação da memória). Se deixar de funcionar nos dois hemisférios
causa no indivíduo a incapacidade cognitiva de gravar novas informações. Por
isso o hipocampo é considerado o “detector de novidades” do cérebro.
Os
especialistas em neurociência explicam que se vivermos uma situação nova – e
inesperada, esse acontecimento fica registrado de forma mais intensa na
memória. Como se explica isso? Pelo fato de que as diversas regiões cerebrais
participam dos processos de percepção e memorização. Uma das mais importantes
áreas de percepção é o hipocampo – que se localiza na área inferior interna do
lobo temporal.
Pode-se
concluir que a novidade é um mecanismo estimulador, ou seja, a novidade é uma
ponte didática para estimular a aprendizagem e a memória, além de tornar mais
agradável e eficiente o desafio de aprender. Essa conclusão fornece aos
educadores uma possível ferramenta para a estruturação de suas aulas: o uso
estratégico de conteúdos surpresas. E, na prática seria conveniente considerar
que muitos professores estão habituados, primeiramente, rever a matéria da
última aula antes de passar para o novo tema.
Não
se trata de negligências a revisão de conteúdos o que se propõe é apresentar
nos primeiros momentos da aula o novo conteúdo – revestido (se possível) de
criatividade, a fim de provocar impacto e preparar o cérebro para novas
construções. Assim, as atividades de revisão, nem sempre estimuladoras, fossem
retornadas num ritmo mais agradável.
“Ensinar e aprender tem que ver com o esforço metodicamente crítico do
professor (...) a prática educativa envolve afetividade, alegria, capacidade
científica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da
permanência do hoje.” (FEIRE, 1996. p 143)
5.
O afeto e a Aprendizagem
O
ser humano nasce com predisposição para interagir. Para sobreviver necessita
estabelecer uma relação estável com outras pessoas em seu ambiente. Com esta
relação os padrões afetivos se desenvolvem, fornecem substrato para
aprendizagem que vai se processando lenta e gradual. É neste contexto que o
bebê dá início à construção de seus esquemas e da sua afetividade.
A
educação infantil é o referencial básico desta inter-relação do professor com a
criança que gera uma proximidade afetiva. Essa inter-relação é o fio condutor e
o suporte emocional da aprendizagem.
“A atividade docente de que a discente não se separa é uma experiência
alegre por natureza (...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade.
O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no
cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade.” (FREIRE, 1996. p 141)
A
criança precisa ser amada, aceita, acolhida, ouvida etc. a fim de que possa
despertar para vida da curiosidade e do aprendizado. A presença satisfatória do
adulto dá a criança segurança física e emocional preparando-a para o
aprendizado.
“O amor é um sentimento nobre que tem a capacidade de fazer o ser humano
feliz. Todos nascem para a felicidade. Esta é uma verdade universal. Em
qualquer cultura por maiores que sejam os obstáculos ninguém quer ser infeliz
(...) Quando se falar em felicidade se fala em amor (...) o amor que faz com
que o equilíbrio possa ser visível. O amor simplesmente o amor.”(CHALITA, 2001. p 245)
O
afeto e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos
sendo o afeto entendido como uma fonte energética necessária para que a
estrutura cognitiva passe a operar, ou seja, sem matéria-prima não podemos
operar o produto.
O
afeto influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois quando o
indivíduo se sente seguro aprende com mais facilidade. Tanto a inteligência
quanto a afetividade são mecanismos de adaptação do ser humano com o mundo onde
está inserido.
O
afeto é também um regulador de ação influindo na escolha de objetivos e na
valorização de si próprio. O papel do professor é específico. Ele prepara e
organiza o universo onde os indivíduos atuam, buscam e se interagem. A postura
do professor se manifesta na percepção e sensibilidade do interesse do aluno de
sentir o mundo.
A
postura do professor se manifesta na percepção e sensibilidade do interesse do
aluno de sentir o mundo.
“Para
ser validada toda educação, toda ação educativa deve necessariamente ser
precedida de uma reflexão sobre o homem e de uma analise do meio de vida
concreto, do homem concreto a quem queremos educar, ou melhor: a quem queremos
ajudar a que se eduque. Se vier faltas tal reflexão sobre o homem corre-se o
risco de adotar métodos educativos e maneiras de agir que reduzem o homem a
condição de objeto, quando a sua vocação é a de ser sujeito e não objeto.” (FREIRE
2000)
CONCLUSÃO
Retomando
o que já foi dito sobre a aprendizagem, está não é uma ação mecânica, uma
simples transmissão do professor que ensina e do aluno que aprende. Ao
contrário, é uma relação recíproca na qual se destaca o papel dirigente do
professor e as atividades do aluno. O ensino não subsiste isoladamente, mas na
relação com a aprendizagem e esta exige atividade mental para se concretizar.
Jonhn
Dewey (filósofo e educador norte-americano defendia a democracia e a liberdade
de pensamento como instrumento para a maturação emocional e intelectual da
criança. 1859-1952): “Só se aprende a fazer fazendo”.
As
atividades extraclasse colocam o educando em condições de mostrar o que foi
aprendido devido a participação do aluno. A participação só faz sentido quando
o aluno está motivado, ávido por saber, manifestando, espontaneamente, o desejo
de novas informações. A isto chamamos de liberdade.
Portanto,
todo ensino deve visar o conhecimento, a habilidade e atitude que não sejam
mostruários apenas nas avaliações escolares, mas principalmente, fora dela.
Deve o professor contribuir em sua prática didática para a construção de
conhecimentos essenciais para a vida do aluno e não se detendo em aspectos
secundários e memorísticos que pouco contribui para o impacto cognitivo. A
aprendizagem não pode ser lógico-matemática e lingüística, precisa ser
integral.
O
afeto contribui para que o aluno se sinta seguro para elaborar e esquematizar
atividades (sejam escolares ou lúdicas). Quando se sente fragilizado, seja qual
for o motivo a memória não ajuda. A qualidade da aprendizagem depende da saúde
física e emocional e todo professor deve atentar-se para isto.
“Não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a
realidade e não apenas pensar pensamentos, pensar o já dito, o já feito
reproduzir o pensamento (...) É preciso pensar também um novo, reinventar o
pensar, pensar e reinventar o futuro.” (Moacir Gadott)
Bibliografia
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários a Prática Educativa,
São Paulo: Paz na Terra. 1996.
MATTOS,
Luiz Alves de. Sumário da Didática Geral. 16ª ed., Rio de Janeiro: Ed
Aurora, 1963.
DROUET,
Ruth Caribe da Rocha. Distúrbios da Aprendizagem. 2ªed., São Paulo:
Ática, 1995.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários a Prática Educativa,
São Paulo: Paz na Terra. 1996.
CHALITA,
Gabriel. Educação a Solução Está no Abfeto. São Paulo: Ed. Gente. 2001.
FREIRE,
Paulo. Uma Escola Chamada Vida. São Paulo: Ed. Ática. 2000.
Periódico:
FENKER,
Daniela & HARMUT, Schutze. Revista Mente/Cérebro – ano XVI, nº193
artigo – O fascínio da surpresa. p. 38
Ana
Lúcia Leonardo Carriço
Membro
da Igreja Batista Missionária Betel em Jardim América, Rio de Janeiro, RJ
Bacharel
em Educação Religiosa. Licenciatura em Pedagogia com
Habilitação em Administração Educacional. Pós-Graduação em Docência Superior e
Psicopedagogia.
Mestre
em Ciências da Religião.
Professora
do Seminário Teológico Batista em Duque de Caxias, RJ e
Inspetora
Educacional da Secretaria Estadual de Educação, RJ